sexta-feira, 5 de junho de 2009

Labirinto

Nos corredores sombrios... de um lado a outro, procurando um rumo.

Perdido no escuro, quanto mais procura mais se perde nas esquinas, muros, becos desertos, céu descoberto. Quanto mais segurança busca, mais perde-se.

Quanto maior a vontade de sair, mais segue ao miolo. Mais profundo o mergulho no lago imóvel da angústia. Crescem as paredes, falta o ar.

Quanto maior a força e o movimento, menor o espaço à volta.

E assim, vence o cansaço de um desgaste inútil, tijolos e tijolos se fecham. Relaxa.

Respira.

Descansa.

Muda de assunto.

Pensa em nada.

Cai em si, percebe que há nada além de alma ansiosa...

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O Curioso Caso de Benjamin Button

"é o bebê da mamãe..."

De repente, luzes...sons...do nada viemos e recebemos de presente a dádiva mais celebrada: a vida. Da forma que nos habituamos a entendê-la, nascemos, crescemos, nos desenvolvemos, procriamos, envelhecemos e morremos. Neste decurso, bilhões de conexões se estabelecem, células se multiplicam a medida que deixam de existir e o desaceleramento deste processo garante a falência daquilo que nascemos aos montes. Seca a pele, padecem os órgãos, perdemos a vitalidade da memória; sem escolha, partimos deixando apenas, por um tempo, a carne e lembranças.

Mas, se ao nascermos, nossa vida fosse posta ao avesso? Se a cada amanhecer nos fortalecêssemos e rejuvenescêssemos? Não é necessário pensar muito. Para ter idéia desse simulacro basta acompanhar por 165 minutos O Curioso Caso de Benjamin Button.

Nascido sob o invólucro da velhice, Benjamin Button (Brad Pitt) é apresentado a vida da maneira mais cruel a um primeiro e todos os olhares que se seguem. Como uma aberração é quase jogado a um rio pelo pai que se recusa a criá-lo mesmo após uma promessa feita a esposa morta depois do parto. Por fim, encontra seu destino abandonado a uma escada de um asilo. Começa ai a jornada que atravessará décadas de um homem que caminha na direção contrária de todos aqueles que farão parte de sua vida, que o amarão e serão amados por ele. Benjamin Button é uma correnteza avessa que atravessa significativamente aqueles que nadam em suas águas.

O âmago da história são os encontros e desencontros até que o tempo torne possível a realização física do sentimento de um amor surgido na infância entre Benjamin, na situação preso a condição de apresentar-se fisicamente como um homem de 80 anos, apesar de mentalmente estar na infância e continuar desenvolver-se como um ser humano normal, e Daisy, neta de uma das senhoras do asilo, com 6 anos de idade.

David Fincher, aclamado pela direção de filmes centrados na violência crítica como Seven e Clube da Luta, não deixa de dar seu recado por trás do romantismo e drama que são derramados em O Curioso Caso de Benjamin Button. Se em Seven os setes pecados capitais são propostos como crimes diários comuns que todos nós comentemos sem pudor, e em Clube da Luta a sociedade de consumo, ao mesmo tempo fruto e alimento da famigerada Indústria Cultural é colocada contra a parede e mais uma vez o protagonista subliminarmente é o espectador, em O Curioso Caso de Benjamin Button somos confrontados com questões existenciais que envolverem aceitação, sabedoria individual e solidão.

Benjamin Button nasceu predestinado a ser só, pois sua vida, acima de todas as outras, jamais poderia ser conduzida ao lado de alguém por inteiro. Nem por isso, em nenhum momento do filme, é evocado um tom de revolta ou questionamento. Como foi dito, o que se assiste é uma gratificação por estar vivo, por cada dia ter sua importância, mesmo sem saber até quando, como nota-se através da fala de sua mãe de criação Queenie (Taraji P. Henson) “Agradeça por estar vivo” e logo depois evidenciado por seu pai “No final só resta aceitar, mesmo que no começo sentirmos revolta e indignação, no final aceitamos” e é o que Benjamin Button faz, não como resignação, mas para alcançar a sabedoria de transformar a sua vida e torná-la maravilhosa com as armas que possui.


Não é tarefa difícil perceber as semelhanças de roteiro entre O Curioso Caso de Benjamin Button e Forrest Gump – O Contador de Histórias. De imediato o mesmo roteirista Eric Roth dá pistas da similitude. A biografia de um personagem de história forte, que afeta diretamente a vida dos que o rodeiam. Forrest Gump nasce com problemas para andar, além disso, uma capacidade mental abaixo do esperado e isso de alguma forma o exclui do convívio normal com crianças de sua idade, sendo Benjamin Button uma criança presa a um corpo de idoso e limitado a executar ações condizentes com a sua aparência, construindo sua infância meio a pessoas mais velhas, habituando-se estranhamente a perda quase diária de alguém querido. Ambos apaixonam-se na infância e este amor é o único verdadeiro em suas vidas com escassas possibilidades de se concretizarem a sua vontade, cabendo ao tempo encarregar-se de proporcionar encontros esporádicos até que um corte favorece a realização efêmera do Amor e o convívio com a pessoa amada, para os dois esta é a fase mais feliz em suas vidas. Ambas são mulheres independentes e livres. A presença da figura materna coincide pela força e avidez, que defende sua cria ao tempo que lhe ensina o caminho das pedras. Outro ponto em comum é que ambos os personagens criam laços fortes com pessoas do mar e estes servem como pontes para um mundo novo. No entanto, a sacada genial de Eric Roth e que vai distinguir de maneira sutil as duas histórias são os enlaces com os fatos históricos.

A escolha de em O Curioso Caso de Benjamin Button não se envolver de maneira a interseccionar-se com os fatos históricos é o brilhante diferencial na medida em que em Forrest Gump esta inserção é a tônica vital para a criação da história. A forma como Forrest é “acidentalmente” integrado aos acontecimentos históricos são agentes moldadores do próprio personagem que levam muitas vezes Forrest ser que ele é, o conduzindo a uma maravilhosa e encantadora jornada de construção. Em Benjamin esse distanciamento é uma escolha feliz uma vez que o molde para o personagem título é a sua própria história, seu próprio acontecimento. Qualquer envolvimento direto causaria uma vertente desnecessária a condução do filme, trazendo elementos irrelevantes para a saga do personagem.

Para além de relação com trabalhos anteriores, O Curioso Caso de Benjamin Button se tornará um clássico por contar não apenas da sua excepcional história, baseada no conto de F. Scott Fitzgerald (que, vale ressaltar, possui traços distintos da sua adaptação para as telas. No conto, Benjamin Button nasce não um bebê com aspecto de idoso e sim um adulto idoso, o que cronologicamente é mais coerente a julgar pela reversibilidade). O cuidado quanto a fotografia, ambientação de todas as épocas vividas e cenários (destaque para o hotel onde Benjamin realiza seu romance com Tilda Swinton), figurino e a magnífica maquiagem dos atores. Tanto para envelhecê-los quanto rejuvenescê-los, complementada pela leveza dos efeitos que sutilmente tornam possível essa viagem mágica. A diferença entre os tons durante o filme revela discretamente o sentimento dos personagens principais. A dureza da infância vem destacada pela predominância do marrom e tons escuros, quase borrados, depois com a realização do Amor, o vermelho transpõe o calor e vivacidade, e a todo tempo o contraponto da frieza azul do hospital onde a história é contada.

O elenco parece flutuar devidamente no filme, graças a bela e delicada atuação de Cate Blanchett como Daisy, que atravesa o tempo inversamente a Benjamin, Tilda Swinton, que revela uma firmeza prazeirosa, como a desafiadora Elizabeth e a para mim ainda não conhecida Taraji P. Henson, que destacou-se com brilho especial como a mãe adotiva de Button, Queenie. Já a Julia Ormond (Caroline), acredito que outra atriz poderia fazê-lo por não ter presenciado nenhum ponto de destaque dramatico, mesmo quando foi solicitado. Brad Pitt consegue encontrar a nota certa para ser o condutor da trama, sem arroubos desnecessários, seguro e linear. Ingredientes perfeitos para um personagem que por si só já é um chamativo e tenta ao máximo permanecer na sala da normalidade. O que fatalmente cairia numa caricatura bizarra, encontra a medida exata através da discrição de ser apenas o que é. Impressionou-me o olhar como espelho da alma em inúmeras passagens do filme: O olhar curioso na infância sobre um mundo que se abre diferente externamente, mas da mesma maneira comum a todos internamente, o olhar da revelação ao primeiro e único amor, ao descobrir e redescobrir ao longo de sua vida sua Daisy, o olhar de renovação e mistério ao envolver-se com uma mulher casada, um romance atemporal em um hotel que parece ser ambientado em local algum, e por fim o olhar de maturidade, mesmo já com aparência de um jovem... o contraponto corpo-mente se apresenta de forma verdadeiramente plausível.

A frase que inspirou o conto de F. Scott Fitzgerald “A vida seria infinitamente mais feliz se pudéssemos nascer aos 80 e gradualmente chegar aos 18” de Mark Twain, resume magnificamente este filme, porém a realização do mesmo nos permite avaliar que caso acontecesse a tão imaginada associação da maturidade ao melhor estado físico seria impossível fugir das doçuras e amarguras da vida, pois no final não importa nem quando nem como, viver continua sendo um espetáculo único, onde nunca sabemos o que nos espera.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Vicky Cristina Barcelona

“Por que tanto perder-se/Tanto buscar-se/Sem encontrar-se”


Lá vou eu outra vez praticar o exercício do "pagar para ver", literalmente. Quem conhece um pouco meus gostos cinematográficos sabe da resistência que tenho ao Woody Allen, mas não deixo de ver um filme quando tenho vontade por conta desses filtros, o que as vezes me rende ótimas surpresas; foi assim com A rosa púrpura do cairo e Celebridades e ainda com Manhattan, mas definitivamente Allen não me agrada por inteiro.

No entando, Vicky Cristina Barcelona, talvez pela temática, talvez pelos atores, mas com certeza pela construção dos personagens, me encantou. A escolha pela utilização da irritante narrativa quase me fez desitir do filme. Detesto filmes com narrativa, me sinto substimanda como se o diretor achasse que não somos capazes de decodificar os sinais emitidos durante a trama. Por outro lado instantaneamente me faz pensar na incapacidade ou falta de motivação de deixar subentendido os detalhes que aflorariam naturalmente no desenrolar da trama. Ok, ok...existe ainda a simples condição da "escolha", mas para mim sempre será a pior delas.

Utilizando-se do mesmo diretor de fotografia de Mar Adentro (fabuloso) e Fale com Ela (Amo!) e Os Outros (já viu né...só filme maaara!) Javier Aguirresarobe, Woody Allen nos transporta a uma Barcelona ídílica e um Oviedo dos sonhos possíveis, onde acompanhamos a história das férias de duas amigas Vicky (Rebeca Hall) e Cristina (Scarlett Johansson), antagônicas quanto as certezas, serem invadidas pelo artista plástico Juan Antônio (Jarvier Bardem) ainda preso a um relacionamento conflituoso com sua tempestuosa ex-esposa. Junte esses ingredientes a uma trilha elíptica que dá ritmo e contorno a trama (A música tema Barcelona gruda igual a chiclete) e o prato final é uma história leve e com momentos de um humor inusutado que trata sobre as muitas formas do Amor.

Depois de ser forçosa e diretamente apresentados aos personagens principais (ela de novo, a voz em off da narrativa!) passeamos pelo filme como Deuses apenas espectando os acontecimentos, com uma leve e intermitente sensação de que "já vi isso antes", porém com o sabor da dúvida e ansiosos pela virada do vento. E eis que vem: Penelope Cruz adentra a trama de uma maneira radiante e magnífica. Iluminando com ar de novas possibilidades a história já marcada. Atrevo-me a dizer afinal que sua personagem Maria Helena, que existe desde sempre, mesmo antes de personificá-la, traz à película de Allen o frescor e a vitalidade não presentes verdadeiramente nos outros personagens. A imediata esteriotipação da loucura revela pouco a pouco uma sanidade ímpar. A carta curinga de Allen se revela para mim e fatalmente faz ele vencer o jogo.

Apesar de sair do cinema aliviada pela experiência, com boas reflexões, não passaram cinco minutos para voltar a estaca zero. Bastou um in sight cortante : "Imagine uma história, um cenário, trilha e atores desses na mão do Almodóvar?"....aí meu amigo a pontuação de Allen despenca novamente...e então, a maré entra em ressaca outra vez.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Fraternidade pelo FELIZ NATAL HO HO HO!!!!


Aproveitem bastante esse Natal miguxaaaaaaaaaaaaasssssssssssssss!!!!!!!!!!!!!!!

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Meia Tigela

"Você tem visto ela por ai?"


Terça- feira, 20h30.


Após a primeira série de apresentações da Madonna no Brasil, cá estou eu em casa me servindo de sobremesa com o top20 da vh1 só com clipes da material girl depois de devorar meia lasanha. Já estava pensando em escrever algo sobre sua passagem por aqui e a minha ausência em todas as apresentações quando, lavando louça, fui invadida por um pensamento/questionamento desconcertante: sou uma fã de meia tigela?

Desde que penso em quando comecei a gostar conscientemente das coisas sempre existiu Madonna. No início com meu inglês tosco e inocente, uma tentativa de tornar as canções ao menos o mais foneticamente entendível possível, o primeiro disco de vinil (que charme), as revistas, as fitas gravadas das amigas mais dotadas (não tinha dinheiro para comprar todos os discos não, até porque minha mãe nunca fez esforço para me alimentar de Madonna "não sei porque Íldima gosta dessa mulher..."), e o primeiro de outros cds. Até que em 93, quando ela veio pela primeira vez ao Brasil, o primeiro trauma. Marcada pela impossibilidade de ir (tinha 12 anos) fui ver a transmissão com Manu na casa de minha madrinha. No início do show Madonna entra se esfregando em um globo brilhante, instantes depois beija uma dançarina na boca, logo logo...eita, imita movimentos de uma relação sexual e insinua uma masturbação em uma cama vermelha junto a outra dançarina e então "leeeelaaa, minha filha vamos desligar? vocês não acham que isso está demais para vocês não?"acreditem. Essas palavras foram pronunciadas pelo bloco de gelo na época encarnado na figura da minha madrinha. Ai, pimba! Tchau Madonna.

Apagam-se as luzes, corte para o futuro.

Hoje como uma fã normal tenho toda a discografia e videografia (graças ao amado), canto as canções sem me expor ao ridículo e querendo ou não acabo sabendo o que se passa em sua vida, mas aos 27 anos não fui nem vou vê-la em suas 5 apresentações no Brasil este mês e o pior (será?) não estou me sentindo mal por isso. Daí o questionamento: Sou uma fã de meia tigela?

Aconteceu o mesmo em 2006 com o Pearl Jam. Apesar de estar envolvida em uma circunstância completamente diferente (onde não foi porque eu não quis, mas porque não pude) fica a sensação de que faço isso para quem sabe olhar para tras e perceber a diferença da necessidade de "ter" que fazer e "querer" fazer.

Gostar de um artista, sentir-se feliz com o seu trabalho e integrado ao que ele oferece, merece passar obrigatoriamente por classificações? Não seguir a massa, o caminho "natural" de um fã, me faz ser menos fã? Afinal, fazemos esses sacrifícios por nós ou para os outros?

São perguntas que já sabemos as respostas antes mesmo delas existirem. Nesta situação penso nos sacrifícios desmedidos das pessoas que vão ou que já foram. Quanto vale o tão falado "instante mágico"? O povo sofre para comprar o ingresso, sofre para pegar um lugar na fila, sofre para entrar, sofre para achar um lugar bom durante o show para se espremer durante duas horas e ver um pontinho saltitante a metros e metros de distância meio a cabeças e corpos suados. A questão que mais me intriga é entender o que move esse povo a essa odisséia desgastante para ver um ídolo. Teria mil respostas calorosas a dar, mas só uma tem valor pra mim: reviver sentimentos.

Percebo que muitas dessas figuras passeiam no meu e em muitos imaginários, principalmente por fortalecer as conexões que remetem a momentos especiais, dentro da nossa infância e juventude junto, muitas vezes, de pessoas que fizeram parte desses momentos. Lembrar dessa Madonna é viajar num tempo maravilhoso que sem um estímulo podem se perder nas gavetinhas do cérebro para sempre. Ouvir essas canções favorece que as sinapses fracas se fortaleçam, e o acesso a essas memórias se eternizem. Outra coisa importante é que grande parte (ou toda) magia vem de estar com quem se ama ou ao menos sintonizado com quem está por perto. No fim não é o artista quem faz a festa, somos nós e o nosso comportamento neste espaço. Este sim é um prazer impagável.

Todos esses nomes e formas que Madonna toma, mudando constantemente, sendo de vanguarda, reinventando-se, são suas características que mais me agradam e me mantém conectada a sua essência de artista, mas confesso que essa Madonna pós-filhos, cabala, casamento inglês, cabala, livro infantil, cabala, senhora em Londres e mais cabala não me encanta tanto quanto a Madonna que brotou de um bolo vestida de noiva cantando Like a Virgin, da cantora de cabelos curtos e cara promiscua de Erotica, ou da figurinha convidativa em Express Yourself. Eu sinto falta da loucura desmedida e ares de segredos que ela exalava. Eu sei, eu sei, o tempo passa e ela continua com um pique incrível, mas alguma coisa que era latente está hibernando e é disso que sinto falta. Sim, ainda gosto dessa Madonna de "Sticky and Sweet", mas não sei ao certo onde nela vive a Madonna de "The Girlie Show".

Isso me ajuda a ficar de boas. Assito pela TV, compro DVD e me divirto também. Ah, e sobre a minha pergunta, sigo sem me preocupar. Cada um do seu jeito vive suas coisas, cada fã a sua maneira, eu estou feliz com minhas doses homeopáticas. Sim, doses homeopáticas fazem bem, porque muitas vezes uma tigela cheia pode causar muita indigestão.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Desmotivado
Mã... Eu e Rye e Takedinha fomos comer ravioli no Iguatemi hoje! Faltou você!!!